sábado, 1 de setembro de 2012

RG RELEMBRA #03: REDE MANCHETE (1983-1999)


Mais que lembrar um saudoso programa de TV, o #RGnaTV conta a história de uma emissora que “aconteceu”... e se perdeu.

Manchete: 18 anos de sucesso e polêmicas.

O início
   Era noite de domingo do dia 05 de Junho de 1983, quando às 19 horas e 02 minutos entrava no ar, através do canal 6, com sede no Rio de Janeiro, os primeiros minutos da Rede Manchete de Televisão. Logo após a propaganda do Oléo Lubrax-4, foi a vez de seu presidente, o empresário Adolpho Bloch – dono do Grupo Bloch – fazer o discurso de abertura, seguido de uma breve saudação do então Presidente da República, João Figueiredo. A emissora ganhou esse nome devido à Revista Manchete, de grande sucesso na época, também do Grupo Bloch. A Manchete tinha cinco emissoras próprias situadas no Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Fortaleza e Recife. Seu investimento inicial era de 50 milhões de dólares.
   O programa que “abriu os trabalhos” da emissora foi “O Mundo Mágico”, um programa musical de três horas de duração que nesse dia, chegou a incomodar o “Fantástico” (Rede Globo) na audiência. Mas ainda neste primeiro dia, a Manchete conseguiu a liderança no ibope ao exibir o filme “Contatos Imediatos do Terceiro Grau”, de Steven Spielberg, que até então era inédito na TV, deixando as outras emissoras assustadas. A “Televisão de Primeira Classe” – primeiro slogan da emissora – mostrou bem ao que veio. Logo na primeira semana fez a diferença ao colocar um telejornal diário de duas horas de duração no horário nobre: o “Jornal da Manchete”.
   Em 1984, a Manchete se destacava fazendo a transmissão dos Desfiles das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, pois era o ano em que se inaugurava a Marquês de Sapucaí. A Rede Globo não transmitiu o evento por atritos entre Roberto Marinho e o presidente do Rio de Janeiro na época, Leonel Brizola. Resultado: a Rede Manchete alcançou incríveis 80 pontos de audiência! Também foi nesse ano que a emissora exibia os comícios das “Diretas Já” e abria o seu setor de dramaturgia. A primeira obra foi a minissérie “Marquesa de Santos”, com Maitê Proença e Gracindo Júnior. Em 1985, estreava o “Clube da Criança”, revelando Xuxa como apresentadora infantil. Em 1986, seria a vez da emissora descobrir Angélica no programa “Nave da Fantasia”. Em 1987, ela comanda o “Clube da Criança” no lugar de Xuxa – que foi para a Globo – e em 1988, o programa “Milk Shake”.
   Na área esportiva, a Manchete transmitiu as Copas do Mundo de 1986, diretamente do México, de 1990, na Itália, de 1994, nos Estados Unidos e 1998, na França. Também exibiu os Jogos Olímpicos de Los Angeles (1984), Seul (1988) e Barcelona (1992). No período de 1986 a 1991, chegou a ser a segunda maior rede de televisão do Brasil, incomodando e muito o SBT, e se tornou a terceira maior potência da TV Latino Americana.

O sucesso
   A emissora de Adolpho Bloch teve seus momentos áureos devido a dois segmentos de programa: a dramatugia e, principalmente, os programas infantis.
  Na dramaturgia, muitas de suas novelas ficaram marcadas no imaginário do povo brasileiro. Sucessos como “Dona Beija” (1986), “Kananga do Japão” (1989), “Pantanal”, “A História de Ana Raio & Zé Trovão” (ambas de 1990), “Tocaia Grande” (1995), “Xica da Silva” (1996) e “Mandacaru” (1997) revelaram grandes atores, autores e diretores da safra veterana que vemos atualmente (a Rede Globo que o diga!).

As novelas da Manchete marcaram época.

   Se os adultos tinham as suas novelas marcantes, as crianças dos anos 80 e 90 também foram mais felizes com a Rede Manchete. O “Clube da Criança”, que estreou em 1983, foi o primeiro programa de auditório infantil que incluía brincadeiras, músicas e desenhos. Xuxa e Angélica foram as primeiras apresentadoras. Este programa sofreu várias mudanças de formato e apresentação, até acabar em 1998, sem auditório, com meia-hora de duração e sob a apresentação da pequena loirinha Debby.
   Quem também fez sucesso no segmento infantil da Rede Manchete foi a dupla Sandy e Junior. Entre os anos de 1997 e 1998, eles comandaram o programa “Sandy & Junior Show”. O programa consistia numa competição entre dois times mistos (meninos e meninas) recheados com muita música. Em 1999, eles foram contratados pela Rede Globo para estrelar o seriado “Sandy & Junior”, que foi sucesso de audiência nos quatro anos que ficou no ar.
   Mas a Manchete não marcou as crianças apenas com programas brasileiros. Eram os desenhos e séries japonesas (respectivamente animes e tokusatsu), que faziam a cabeça das crianças nas décadas de 80 e 90. Os sucessos são inúmeros. Nos anos 80, destaque para as séries do guerreiro Jaspion, o ninja Jiraya e os super sentai (tipo "Power Rangers") Changeman e Flashman. Nos anos 90, veio o boom dos animes, com Cavaleiros do Zodíaco (considerado até hoje um marco da TV, abrindo as portas do mercado brasileiro para as animações japonesas), Samurai Warriors, Shurato, Yu-Yu-Hakushô, Sailor Moon, Super Campeões, além da ousadia de exibir, em horário nobre, um bloco batizado de "U.S. Manga", onde os animes tinham temática mais adulta. Nos tokusatsus, tivemos Black Kamen Rider e Black Kamen Rider RX, Maskman, Cybercops, Patrine e Winspector. Todos eles eram exibidos em diversos horários (principalmente na parte da tarde), dentro de diversos programas. Eram realmente bons tempos... #saudades

Esses eram os desenhos que faziam sucesso nos anos 80...

...Agora, os anos 90!

O declínio
   Para quem acha que o fim veio apenas em 1999, quando a emissora saiu do ar, está redondamente enganado. Na verdade, a Manchete deu o seu primeiro tropeço em Fevereiro de 1986 quando, em menos de três anos no ar, já acumulava um prejuízo de 80 milhões de dólares e uma dívida de 23 milhões de dólares. E foi neste ano que a emissora entrou na sua primeira crise, com a primeira greve de funcionários em setembro.
   Em julho de 1987, a Manchete demite 100 pessoas devido a nova crise. A linha de shows é desativada e Adolpho Bloch admite que a emissora estava a venda. A crise se agravava, piorando no início de 1992, devido ao fracasso da novela “Amazônia”. A dívida chegava a 125 milhões de dólares. A emissora começa a ser negociada com o grupo IBF, de Hamilton Lucas de Oliveira, sendo vendida em maio daquele ano. A consequência da venda não poderia ser pior: a base de operações foi transferida para São Paulo, demitindo 670 funcionários.
   Em 1993, a falta de pagamentos faz com que os funcionários tirassem a programação do ar pela primeira vez no fim da tarde do dia 15 de março. Em seguida, eles exibiram um slide denunciando a falta dos pagamentos e o sucateamento da TV Manchete. Estava deflagrada uma nova greve de funcionários.
   Após o episódio, Adolpho Bloch entra com um processo na Justiça a fim de retomar a emissora. Através de medida cautelar, a emissora retornou ao controle do empresário em 23 de abril de 1993. Na época, a Justiça do Rio de Janeiro alegou que a IBF descumpriu cláusulas contratuais. Em 1995, a emissora começava voltar aos tempos áureos, mas aconteceu o embargo de bens da emissora pelo Banco do Brasil. As emissoras afiliadas começavam a deixar a Rede, passando para a Record e para a CNT. Também foi nesse ano que Adolpho Bloch faleceu – no dia 20 de novembro, vítima de uma embolia pulmonar – e o Grupo Bloch, tendo à frente Pedro Jack Kapeller (Jaquito), mergulhou numa profunda crise. No ano de 1997, as novelas passaram a abusar da nudez, tudo para obter a vice-liderança na audiência. No dia 31 de dezembro, a Manchete assina contrato com a Igreja Renascer em Cristo, da bispa Sônia Hernandez. O contrato previa a administração da emissora mediante pagamento mensal de R$ 4,8 milhões durante 15 anos. A igreja passou a produzir todos os programas e a vender os espaços comerciais da emissora, mas não pagou os salários dos funcionários, já atrasados em quatro meses. Após quase um mês nas mãos da Renascer, a Rede Manchete retornou ao comando da família Bloch. O arrendamento foi desfeito na justiça, devido à inadimplência da fundação.

"Brida": a última e desastrosa novela da Manchete.

   No ano de 98, estreava a novela “Brida”, baseado no best-seller de Paulo Coelho. A novela não alcançou bons índices de audiência e teve que ser encerrada às pressas (no 54º capítulo) diante do estouro da nova crise na emissora. Mais 600 funcionários são demitidos e vários programas foram extintos. Em setembro daquele ano, um novo slide é exibido pelos funcionários da Manchete de São Paulo exigindo soluções para aquela situação. No mês seguinte, uma nova greve é deflagrada devido ao não pagamento de salários. As dívidas com a Embratel passaram a ser descontadas através dos cortes diários do sinal da emissora no satélite entre às 11 da noite e 6 da manhã.
   1999 era, de fato, o ano do último suspiro da Manchete. Os problemas começaram logo em janeiro, quando o “Jornal da Manchete” saiu do ar por alguns dias. O drama se arrastou até maio, quando o empresário e sócio do Banco Rural, Amilcare Dallevo Júnior, presidente do grupo “TeleTV”, que operava o sistema de ligações interativas através do prefixo 0900, assinou um contrato para administrar 30% das dívidas da emissora e a concessão dela. No dia 08 daquele mês, depois de várias reuniões, num acordo acompanhado pelo Ministério das Comunicações, as emissoras foram adquiridas pela TV Ômega, de propriedade de Dallevo Júnior. A transação ocorreu dez dias antes do prazo final para a renovação das concessões, que estavam vencidas desde 96. Em 09 de maio, a TV Manchete é vendida definitivamente ao grupo TeleTV.
   E assim, no dia 10 de maio de 1999, a vinheta da Manchete era exibida pela última vez, que diante de uma explosão espacial que dizia “Você em Primeiro Lugar” se congelava, sucedido de uma tela escura por aproximadamente 20 minutos até aparecer o logo da “TV!”, que mais tarde se chamaria a “RedeTV!” que conhecemos hoje. Era o enterro definitivo da Rede Manchete.

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   Por ironia do destino, a Rede Manchete, que se denominava “A Televisão do Ano 2000” não viu este ano de ouro chegar, mas os 18 anos dessa emissora estão marcados e eternizados por muitos brasileiros que, mesmo com os escândalos de greve e dívidas, ainda sentem falta de ver aquela famosa (e emocionante!) vinheta do “M” voador sobrevoando várias partes do Brasil e uma programação singular. Se pudéssemos resumir a sua história em poucas palavras, façamos uso de seu mais famoso bordão, adaptado da Revista que deu origem ao nome da emissora: “Aconteceu, virou Manchete... ENTROU PARA A HISTÓRIA!”. Valeu, Rede Manchete!

Veja agora a vinheta mais inesquecível da TV Brasileira... #êsaudades!


Agradecimentos: RedeManchete.Net, Site Microfone, Blog Tela Ligada, Museu da TV e Wesley Prado (do Blog "Caixa da Memória").

4 comentários:

  1. adoraria ver a rede manchete no ar de novo , ñ so pra derubar a globo , mas pra ter uma opçao a mas , e recordar os meus momentos de alegria quando criança ,saudades de boa programação

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  2. simplismente a melhor saldades rede manchete..

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  3. A Manchete tinha tb uma equipe esportiva da melhor qualidade! Marcio Guedes, Zé"Cavalo"...(kkkk), Paulo Stein, o Galvão Bueno (não tenho certeza desse na Manchete!)
    Mas assisti meu time ser TRICAMPEÃO BRASILEIRO NA MANCHETE!(JUNHO DE 1983)
    tINHA TB UM PROGRAMA ,DOMINGO , PROJETO UFO,EU NÃO PERDIA UM!
    bOAS LEMBRANÇAS,GRANDE mANCHETE!
    aDOLPHO bLOCH ERA MUITO AMIGO DO MAIOR ESTADISTA DO sÉCULO xx, jUSCELINO!
    dEUS SEJA LOUVADO!
    ZEROBERTO

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  4. SAIU AGUA DOS OLHOS QUANDO COMECEI A VER A VINHETA... APRENDI MUITO COM AS PROGRAMAÇOES DA MANCHETE...

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