sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

RG CRÍTICA #36: IMPÉRIO

Novela de Aguinaldo Silva é o programa de maior audiência da TV aberta atualmente. Mas os números fazem jus à sua qualidade?

A atual novela das nove da Globo termina em março.

No currículo do autor Aguinaldo Silva, “Império” é o seu 24º trabalho em teledramaturgia. Ocupando-se do horário mais nobre da TV aberta, a atual novela das nove da Rede Globo é, disparado, o produto mais visto na telinha. O folhetim estreou no dia 21 de julho de 2014, e até o seu desfecho, programado (até agora) para o dia 13 de março de 2015, tem muita água pra rolar. Mas a pergunta que não quer calar é: “Império” está merecendo tamanha repercussão?

Se a resposta for sim, ela tem uma explicação. A começar pelo seu elenco estelar. Juntar Lilia Cabral e Alexandre Nero como protagonistas e ainda ser brindado com atuações impecáveis de José Mayer, Suzy Rêgo e Drica Moraes (até se afastar da trama e ser substituída à altura [e nas pressas] por Marjorie Estiano) é um golpe de mestre. Os coadjuvantes também não fazem feio. O que falar do trabalho de Ailton Graça, Paulo Betti, Paulo Vilhena e Leandra Leal? Que mesmo com seus respectivos exageros, dominam bem seus papeis. E até os personagens pequenos vem mostrando seu valor, como é o caso de Viviane Araújo, Othon Bastos e até o elenco de apoio Hugo Esteves. Realmente, se for julgar pelo quesito atores, “Império” está bem servido, é claro. A direção capitaneada por Rogério Gomes também merece seus aplausos.

Lilia Cabral e Alexandre Nero são os grandes nomes de "Império".

Se a resposta for não, ela também tem uma explicação. E ela atende pelo nome de audiência. Segundo dados divulgados pelo colunista do UOL, Maurício Stycer, a trama de Aguinaldo Silva registra 32 pontos de média. Sua antecessora, “Em Família” (mais conhecida como o fiasco de Manoel Carlos), fechou com 30 pontos, bem menos que “Amor à Vida” (36) e “Salve Jorge” (34). Nas redes sociais (mais precisamente o Twitter), um público que não deve ser ignorado nos tempos de hoje, a relevância de “Império” não chega nem perto do que foi o fenômeno “Avenida Brasil”, em 2012. Poucos se dão ao trabalho de comentar em tempo real o que se passa quando começa a abertura ao som de “Lucy In The Sky With Diamonds”. Nas ruas, o folhetim também passa despercebido e tá longe de virar assunto, como era o burburinho de “Amor à Vida”, a novela de Walcyr Carrasco, graças ao impagável Félix de Mateus Solano.

Julgando a trama no geral, ela não tem muitas novidades. Aguinaldo Silva deixou claro na estreia que ia fazer uma novela “que o povão gosta de ver”, ou seja, cheia de clichês, de elementos de dramalhão que atraem qualquer noveleiro(a) que se preze. E para muitos que reclamam, sim, “Império” tem a sua coerência. Mas, e a troca “duvidosa” de Marjorie Estiano? Pois bem, amigos, nada pode ser feito. A substituição não era prevista. Foi uma manobra arriscada, de última hora, de um dia pro outro, para não perder uma personagem que era mais que fundamental na trama. Drica Moraes fazia uma Cora com maestria, mas Marjorie, mesmo tendo sido chamada num dia e começado a gravar no outro, e começando com uma cena que era, inclusive, crucial para a personagem e manter a essência dela na sua atuação foi um grande acerto. Mas e o físico de Cora? Gente, é novela! Não dá para cobrar verossimilhança de uma obra de ficção. E cá pra nós, em relação à coerência, já vimos coisas piores em novelas das nove da Globo (“Salve Jorge” que o diga... rs!).

Nem a mudança de Coras arranhou a imagem de "Império".

Meu maior medo dessa reta final de “Império”, sem dúvida, é pelo seu desfecho. E sabe porquê? Porque Aguinaldo tem uma mania muito feia de começar muito bem uma novela e terminar muito mal. Afinal, suas últimas tramas – “Duas Caras” (2007/2008) e “Fina Estampa” (2011/2012) – seguiram esse carma. “Duas Caras”, inclusive, deixou seu último capítulo para o sábado (fato inédito até então), mas as surpresas foram mínimas. Já “Fina Estampa”, que também foi de grande sucesso, se esborrachou numa última cena mega mal-feita que podia muito bem ter sido excluída ou feita de outra forma.

Contudo, mesmo com todos esses entraves, eu lembro do Aguinaldo Silva de “Roque Santeiro”, de “Vale Tudo” e “Senhora do Destino”, me acalmo, e dou um crédito ao autor. Apesar dos pesares, “Império” tem se saído muito bem, e tem sido interessante saber o que vem por aí na história do Comendador e companhia. Se no fim do lapidar dessa joia ficar uma pedra preciosa para guardar pra sempre, então vale a pena acreditar nessa trama bruta que ainda estamos acompanhando nas noites globais.

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