O
#RGnaTV traz uma entrevista exclusiva com um jornalista que leva o
nordeste em qualquer lugar que vá, seja nas matérias, seja no
sotaque inconfundível. Falo de Francisco José, da Rede Globo.
Chico e eu, em Nov. de 2011, na Globo Nordeste. |
Uma
hora e 25 minutos. Este foi o tempo entre o meu “pedido de
entrevista” por e-mail
e a resposta positiva desse jornalista. Formado em Direito e
especialista em Marketing, Francisco José de Brito, natural do Crato
no Ceará, possui 37 anos de carreira. Na terra, água ou ar,
Francisco José se destaca pela simplicidade, humildade e o poder de
nos hipnotizar com suas reportagens especiais, que quase sempre
ganham destaque a nível nacional. Apaixonado pela profissão e
casado com Beatriz Castro, também jornalista da Rede Globo Nordeste,
não tem a mínima vontade de deixar Pernambuco, o seu lugar de
coração. Por aqui no Recife, recentemente ele comandou o programa
local “Nordeste – Viver e Preservar”
junto com Beatriz, e o misto de aventura e emoção predominam em
qualquer matéria que ele faça. Nos últimos três dias, mesmo que
por troca de correios eletrônicos, pude conhecer mais dele e agora,
o #RGnaTV – com todo o prazer – altera o seu cronograma de
postagens para mostrar logo essa entrevista com ele, que já me deu
liberdade para chamá-lo como os outros jornalistas profissionais o
chamam. Sem mais delongas, o meu terceiro #RGEntrevista é com ele, o grande Chico José.
RG
na TV: Ao longo de 37 anos de carreira, como se sente em ser “o
primeiro sotaque nordestino do telejornalismo da Globo”?
Chico
José:
Sinto-me bem, em continuar falando com o meu sotaque sertanejo.
Constrangedor, seria se estivesse falando na TV com sotaque paulista
ou carioca. Seria uma falsidade com a minha origem nordestina, que
prezo muito.
RG:
Você começou a sua carreira de jornalista de maneira
espontânea, ao corrigir a estatística de um campeonato no Jornal do
Commercio. Quando você percebeu que o jornalismo era,
definitivamente, sua área, seu talento?
Chico:
Quando
comecei a trabalhar na redação do Diário da Noite, vespertino do
Jornal do Commercio, senti que o jornalismo estava no meu sangue. E passei a me dedicar definitivamente.
RG:
Ainda na área esportiva, seu primeiro trabalho na Globo foi narrar
um jogo do Santa Cruz X São Paulo, no Morumbi, e você percebeu que
não era bom fazendo aquilo. Você acredita que um jornalista precisa
conhecer os seus limites e respeitá-los?
Chico:
Em todas as profissões é necessário conhecer e respeitar limites.
No caso específico da narração do jogo, senti que não tinha
talento para ser narrador. Narrar é um dom divino que não se
aprende na escola.
RG:
Chico, você é um mestre em fazer reportagens especiais. Seja na
terra e, principalmente, no mar. Qual a sua relação com os oceanos?
De onde veio essa paixão pelas águas?
Chico:
Eu
moro de frente para o mar, na praia de Boa Viagem. E Fernando de
Noronha fica a 50 minutos de voo da minha casa.
RG:
Mesmo pelo mar, você cobriu grandes tragédias. Qual foi a cobertura
jornalística mais difícil que você já fez e porquê?
Chico:
No início da minha carreira gravei centenas de reportagens sobre a
seca. Voltava do sertão muito emocionado, porque via pessoas
morrendo de fome. Crianças que não completavam um mês de idade e
eram enterradas na roça, ainda sem nomes: os "anjinhos da
seca". Hoje, só os animais continuam morrendo de fome durante a
estiagem.
Francisco e Beatriz, casados, apresentam o "Nordeste - Viver e Preservar"
RG:
Por aqui na Globo Nordeste, você apresenta o especial “Nordeste -
Viver e Preservar”, com a Beatriz Castro, que encerrou temporada em
agosto desse ano. Esse programa tem um valor especial pra você?
Quais são os planos para este projeto?
Chico:
O programa deve voltar no próximo ano. É o primeiro projeto em que
Beatriz e eu trabalhamos juntos. E gostamos muito de fazer o
'"Nordeste - Viver e Preservar".
RG:
Nessas viagens pelo Brasil e ao redor do mundo, teve algum lugar que
te surpreendeu a ponto de mudar a pauta de uma reportagem?
Chico:
Mudar
a pauta é uma rotina constante em todas as viagens. Recentemente,
atravessei o deserto do Namibi, a procura das kapalas gigantes. Não
encontrei os animais que estão quase extintos na natureza, mas fui
parar numa aldeia, onde havia um sultão, vivendo com 42 mulheres
e 152 filhos. Nem a imprensa africana conhecia o recordista mundial de
mulheres e filhos. Foi destaque no Fantástico.
RG:
Um grande jornalista precisa sempre de uma grande equipe. Pode
nos citar alguns de seus companheiros de viagens ao longo desses anos
e o que aprendeu com eles?
Chico:
Em televisão, só trabalhamos em equipe, onde o cinegrafista é peça
fundamental. Eles são responsáveis pelas imagens, sem as quais,
não haveria reportagem de vídeo. Estou escrevendo um livro e
dedicando aos repórteres cinematográficos, que considero
verdadeiros heróis.
RG:
Qual será a próxima grande reportagem de Francisco José? Alguma em
mente? Algum roteiro inexplorado/pauta inexplorada que você anseia
em registrar?
Chico:
Pela
primeira vez, estou no estaleiro. Na última reportagem para o Globo
Repórter, que foi ao ar na sexta-feira passada, sobre a Colômbia,
cai desastrosamente, no topo de uma montanha, a mais de 5 mil metros
de altitude. Fiquei mais 12 dias cavalgando nas montanhas antes
dominadas pelas FARC, mergulhando no Pacífico e no Caribe, até
concluir o programa. Quando voltei ao Brasil, o resultado da
ressonância magnética acusou ruptura total dos tendões do ombro
direito. Passei por três horas de cirurgia e estou recuperando os
movimentos do braço. Mesmo assim, participei de toda a fase de
edição do programa e tenho ido à redação. Devo
voltar na próximo semana, mas apenas com matérias leves...
"Um jornalista não deve abandonar a matéria só porque quebrou alguns ossos." (Francisco José)
RG:
Deixe uma dica para os futuros jornalistas que pretendem ser
grandes profissionais como você.
Chico:
O curso de jornalismo é a melhor forma de especialização em
jornalismo. Depois, dedicação, dedicação, dedicação... Sou
radical: um jornalista não deve abandonar a matéria só porque
quebrou alguns ossos...
Entrevista incrível! Obrigado Chico!