Homenagem do SBT ao seriado de maior sucesso da casa há 30 anos mostrou que é possível sim fazer uma boa versão brasileira de 'Chaves'... Desde que o elenco se esforce mais!
Foto do elenco de "30 Anos de Chaves" (faltou Christina Rocha). Divulgação.
Todos ficaram com um pé atrás quando ouviram falar que o SBT (Sistema Brasileiro de Televisão), como parte da comemoração de seus 30 anos de funcionamento na semana passada, iria fazer uma versão brasileira de “El Chavo del Ocho”, mais conhecido por nós como “Chaves”. A série, que chegou nos primeiros anos de fundação da emissora da Anhanguera no meio de um pacote de programas mexicanos comprados pela emissora Televisa (Televisión San Angel) por Silvio Santos, não agradou aos executivos da época a princípio, mas Silvio insistiu em pôr o seriado no ar após assistir alguns episódios e tomar conhecimento do sucesso que já se alastrava em grande parte da América Latina naquele começo dos anos 80. Desde então, “Chaves” é exibido quase que ininterruptamente pela “TV mais feliz do Brasil” nesses 30 anos, em diversos horários e em quaisquer dias possíveis e, às vezes, ainda dá dor de cabeça na concorrência (porém, já deu mais... chegando incomodar até a “toda poderosa” Rede Globo em pleno horário nobre). Porém, a dor de cabeça que eu me refiro agora é a dos fãs dessa série, que encantou e ainda encanta gerações, que assim como eu, resolveu dar uma chance pra assistir a “homenagem” de um de seus maiores trunfos até hoje.
No último sábado (20), logo após “Amor e Revolução” (uma novela de Tiago Santiago), a versão brasileira de Chaves, com uma abertura diferenciada, entrou no ar – vale lembrar que esta foi a quarta homenagem ao seriado neste ano, que ganhou um programa especial no “Festival SBT 30 Anos”, comandado por Patrícia Abravanel (filha de Silvio Santos), a exibição de “Episódios Perdidos” (episódios que foram recuperados e jamais passados pelo SBT até então) e a entrevista diretamente do México de Roberto Gómez Bolaños (o próprio Chaves e criador da série) cedida ao apresentador Ratinho (que também participou do remake brasileiro) e exibido em seu programa um dia antes desse especial ser veiculado.
“30 Anos de Chaves” trazia em seu elenco: Carlos Alberto de Nóbrega (Professor Girafales), Christina Rocha (Dona Clotilde), Felipe Levoto (Seu Madruga), Lívia Andrade (Dona Florinda), Marlei Cevada (Chiquinha), Ratinho (Seu Barriga), Renê Loureiro (Chaves) e Zé Américo (Kiko), contando com a direção de Marcelo de Nóbrega (filho de Carlos Alberto, que também é o atual diretor do “A Praça é Nossa”), isso talvez explique a presença de quatro pessoas do elenco da “Praça...” nesse especial. No roteiro, eles representaram o episódio original “Bilhetes Trocados”, onde o Professor Girafales ao tentar se declarar para a Dona Florinda é surpreendido com uma carta trocada escrita pelo Seu Madruga, onde havia uma lista de compras para um açougue. A troca das cartas acontece quando o professor deixa cair o seu bilhete no chão da vila e Chiquinha apanha, ao mesmo tempo que está com a lista de compras do seu pai. E a confusão estava pronta.
O especial abriu com um esclarecimento: que eles não estavam ali para ser iguais ou melhores que o programa original, e sim, prestar uma homenagem à esta série. Para isso, eles recriaram (perfeitamente!) a vila, usaram a mesma (e cativante) trilha sonora, e mesmo que o programa tenha sido gravado em HD, uma edição especial foi aplicada para dar o mesmo ar de antigo em que a série original exibe. Até aí tudo bem, para evitar comparações. Mas se a gente não podia comparar com o original, vamos ao menos dizer o que deu certo e errado:
CHAVES: O protagonista, Renê Loureiro, não se saiu tão bem. Percebi que ele foi pelo caminho mais difícil: o da caricatura. Uma pena que Renê não soube aproveitar a grande chance que recebeu.
CHIQUINHA: Marlei Cevada foi bem fiel à menina mais chorona da TV, principalmente na voz. Uma atuação bem fidedigna.
DONA CLOTILDE: Christina Rocha estava bem caracterizada como “a bruxa do 71”, mas nas duas cenas em que apareceu no especial, apenas na última ela entendeu o que estava fazendo por ali, conseguindo até arrancar umas risadas.
DONA FLORINDA: Como já disse em outra ocasião em meu Twitter, a representação de palco da Livia Andrade foi excepcional! O papel, que estava escalado primeiramente para Marília Gabriela, casou perfeitamente com a atriz “dos pontinhos”. Seja no fisico e na voz, quanto nas caretas e/ou no figurino, Lívia surpreendeu muita gente que a via apenas como “o mulherão dos olhos do patrão”. Palmas de pé!
KIKO: Mesmo sendo um grande ator, Zé Américo deixou a desejar (bastante!) ao interpretar o “bochechudo” Kiko. Com caretas e atitudes forçadas, (salvo pelo figurino) ficou bem difícil engolí-lo como o filho da Dona Florinda. Na intenção de “se divertir”, acho que ele “relaxou” demais.
PROFESSOR GIRAFALES: Carlos Alberto se esforçou bastante, mas a pouca semelhança com o personagem e as atitudes que passavam longe do “professor Linguiça” (inclusive na altura, satirizado em cena até pelo Zé Américo), só reforça uma triste tese: ele só está no especial para honrar o trabalho de seu filho como diretor.
SEU BARRIGA: Ratinho também não deixou de ser ele no especial. A distância entre ele e o pai do Nhonho, tirando o aspecto físico, eram visíveis.
SEU MADRUGA: Felipe Levoto foi uma boa surpresa no programa. A representação da voz rouca, bem imposta pelo Felipe, deu mais fidelidade à sua atuação, junto com a boa caracterização do personagem. Foi o melhor ator entre os homens.
SEU MADRUGA: Felipe Levoto foi uma boa surpresa no programa. A representação da voz rouca, bem imposta pelo Felipe, deu mais fidelidade à sua atuação, junto com a boa caracterização do personagem. Foi o melhor ator entre os homens.
Outro fato digno de relato foi a contemporaneidade dada ao texto de Bolaños nesta versão brasileira. Brincadeiras com a Copa de 2014, Twitter, Rodovia Transamazônica, além dos trocadilhos (alguns bem forçados) com bordões e programa da casa, deram o ar de século XXI do especial. Ponto positivo! O porém é que muitas dessas piadas, principalmente as de Ratinho, foram contadas em direção à câmera (pro telespectador), no maior estilo “Zorra Total” (humorístico da Rede Globo), dando uma atmosfera teatral desnecessária que a série Chaves usou pouquíssimas vezes. Ponto negativo!
Uma das melhores cenas deste especial, sem dúvida, é a leitura da carta do Professor Girafales feita pelo Chaves para o Seu Madruga. Que é uma das cenas antológicas de Roberto Gomes Bolaños e Ramón Valdez (Seu Madruga) (in memorian) no seriado.
No quesito audiência, a atração chegou à vice-liderança atingindo a média de 9 pontos no ibope (contra 39 da Globo e 8 da Record) no horário de 22h44 às 23h06. Em virtude do relativo sucesso, o programa ganhou uma reprise na última segunda-feira (22/08) – também após “Amor e Revolução”, onde ficou em terceiro com média 5 (picos de 6, contra 25 da Globo e 8 da Record).
Tirando alguns tropeços, o programa se saiu de todo bem, pois provou que é sim, possível, fazer um bom remake tupiniquim de “Chaves”, desde que TODO o elenco comprometa-se a se esforçar. E nessa onda de versões brasileiras, a emissora paulista já está preparando um remake da novela infantil “Carrossel”, escrita por Iris Abravanel (esposa do “Patrão”), com estreia prevista para 2012. É esperar pra ver no que vai dar...
Veja, abaixo, o programa "30 Anos de Chaves" na íntegra:
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Gostaria de aproveitar o fim do meu post para agradecer as respostas positivas que recebi sobre a minha primeira matéria. Em especial a Débora, Nathaly, Eraldo e Antônio, que registraram as suas opiniões neste blog que está sendo feito com toda a minha dedicação. Levarei seus conselhos comigo para buscar a melhora. Mas aos meus amigos do Twitter e Facebook também, e aos, agora, cinco seguidores do blog, meu muito obrigado, e até a próxima! =D